Bolsa estupro - Projeto de lei

Este talvez seja meu primeiro artigo passional neste blog. Falarei sobre o projeto de lei conhecido popularmente por “bolsa estupro” que está em uma infinidade de sites de notícias desde o dia 13 de dezembro de 2007.

O projeto de lei que tramita no Congresso visa combater o aborto resultante de estupro através de incentivo a mãe, vítima da violência, com um salário mínimo pago pelo Estado por durante 18 anos.

Na legislação vigente o aborto decorrente de estupro, segundo o art. 129, inc. II do Código Penal, não é ilegal. No entanto com essa articulação pretende-se no futuro mudar e proibir qualquer tipo de aborto.

Aprofundando-se melhor no projeto de lei e conhecendo um pouco melhor o autor do projeto se chega à causa determinante que impulsiona o projeto. Não caro leitor, não é a preocupação com a criança ou com a mãe, vítima da violência, como demonstram as palavras do autor do projeto as quais dizem que “não importa se a mulher corre risco ou se foi estuprada”. A preocupação maior é em seguir os ensinamentos da santíssima Igreja Católica.

Segue abaixo frases do ilustre Deputado Federal Henrique Afonso do PT-AC e meus respectivos comentários:


“O Estado deve garantir o que pensa a maioria e acredito que a maioria dos brasileiros acredita no que Deus prega, que é o direito à vida. Não posso separar o deputado do cristão”

Em primeiro lugar deve-se tentar descobrir onde está escrito que o que a maioria quer é o que o Estado deve garantir. Se fosse assim já teríamos a décadas implementada no país a pena de morte, e não a temos. Por que? Por que optamos pela democracia. Garantida por quem? Pela constituição, que tem diversos mecanismos que funcionando em conjunto garantem a mesma.

Cabe também destacar que o cidadão sim, tem o direito de simplesmente pensar, divagar, sem fundamentação ou compromisso algum. Já os Deputados Federais, como é o caso, devem legislar, com embasamento e fundamentação, de forma lógica e razoável, a fim de buscar o bem comum, e não o bem de um segmento da sociedade seja ele minoritário ou majoritário, uma vez que a democracia, a qual citamos acima, veio para beneficiar as minorias políticas.

“O aborto, para nós evangélicos, é um ato contra a vida em todos os casos, não importa se a mulher corre risco ou se foi estuprada”

É impressionante o que se encontra na política desse país. O Estado, apesar da discordância do Deputado deve ser sim laico. Já está mais do que enfestado de conceitos cristãos. É hora de dar um basta. O cidadão Henrique Afonso tem o direito de ser cristão, entretanto o Deputado tem o dever de constituir um Estado laico. Tanto católicos, quanto umbandistas, protestantes, adventistas ou espíritas terão de acatar as leis que são emanadas do poder legislativo. Daí o dever dos representantes da sociedade em legislar para TODOS e não para um SEGMENTO desta.

Gostaria de deixar claro que este artigo não tem o intuito de ir de encontro com nenhuma religião ou seus respectivos membros. E sim levantar a questão de que o poder legislativo não é o local adequado para isso.

Nesta questão o legislador teria que se preocupar com medidas preventivas, e não soluções tardias e paliativas como esta, se é que se pode considerar esta uma solução. Seria uma hipocrisia acreditar que um salário mínimo por mês atenuaria a dor psicológica de uma mulher.

Com o novo dispositivo a vítima da violência seria obrigada legalmente a carregar em seu ventre um ser que lembraria diariamente a violência sofrida. Para muitas mulheres isso poderia ser insuportável. Entretanto, talvez este conceito seja considerado completamente desprezível, uma vez que nas palavras do respeitável deputado “não importa se a mulher corre risco ou se foi estuprada”.

Projetos como este terminam por corroer a estrutura jurídica do país. Acabam por empurrar goela a baixo uma crença ou pensamento baseado em uma questão puramente moral. Este tipo de projeto é simplesmente descabido. Pérolas legislativas como esta, se não fossem tristes, seriam cômicas.

2 comentários:

Marcela disse...

Filipe, com todo o respeito, o deputado deve agir conforme a sua convicção - ele com certeza foi eleito por defender ideais semelhantes aos dos seus eleitores. Se essa não for a vontade do restante dos representantes do povo, a lei não será aprovada.
Embora o deputado faça alusão ao respeito a um princípio cristão, não vejo nada estritamente católico nesse projeto. E foi curiosa sua expressão "infestada de conceitos cristãos" - não conheço um só conceito cristão que contrarie o Estado Democrático de Direito. E olha que eu não tenho religião.
Parabéns pela iniciativa do blog!
Abraço,
Marcela.

Anônimo disse...

O estritamente católico está intrínseco no projeto, entretanto se mostra claramente no posicionamento do Deputado, quando se lê as palavras por ele ditas.

Concordo sim que ele tem que atuar como prometeu em sua campanha, mas não posso negar que me causa uma certa revolta, o fato de um Deputado Federal, que foi parar lá por seus eleitores sim, mas por estar onde está, legislará para todos e não para sua federação apenas.

Os conceitos da religião estãos enfestados, e tem diversos exemplos que deixam claro isso. Daí que o Estado "deveria" ser laico. Pois os cidadãos tem direito de serem católicos ou não. E se optarem pelo não tem de ser tutelados por um Estado neutro.

Agora deixando de lado o debate, gostaria de agradecer seu prestígio e lhe mandar um grande abraço.

Você é a dona do primeiro comentário desse blog e espero que não seja o seu último. Volte sempre que quisér.

Abração.

 


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